Só na madrugada do dia 24 de Junho de 2012 conheci a sua
verdadeira identidade: Luís Valente Funjua. Antes daquela madrugada em que
copos de cerveja faziam a confraternização com a minha exclusiva presença (pela
primeira vez) na barraca da tia Vitória, a vizinha esposa do tio Manhiça, o
polícia, não poderá imaginar que Dunga ou Estragado, nomes que desde criança
ouvi os moradores da zona a chamarem-no é Luís Valente. Sempre soube que seu
pai é o madala Fúndjua, no jeito suburbano
de se dar os nomes, mas a informação não passava disso. Eu mesmo, quem saberia
que sou Eduardo Quive se não fosse esses jornais em que ando a laborar, rádios
e televisões que me chamam para entrevistas e opiniões? A propósito, hoje me
estreei como parte da equipe do jornal @Verdade, mais uma dessas coisas que me
fazem ser pouco escritor e muito jornalistas.
E por esta veia da profissão acabei de me lembrar de tirar umas
fotos ao Dunga enquanto estava nas habituais sessões de toques, hábitos que
mais ganhou depois de ascender para loucura, vencendo os longos anos de lucidez
que tivera. É isso mesmo Dunga é um extra-lúcido. E será problema de nome?
Mas esta coisa de nomes é mesmo verdade. Conta-se desde a infância
na zona sobre Estragado, Dunga, o filho de quem não se sabe, mas esse era seu
nome. Estragado. E como era? Era um estragado em pessoa, se não fosse, então
estragava.
Estragado, enlouqueceu na flor da idade. Colheu perfumes de mortos
em plena vidisse. Alimentou almas profundas com seu juízo. Ficou maluco de
verdade, o Estragado. Estragou a cabeça e já não batia 100.
Na zona a história é assim contada.
Um dia o jovem Estragado, arrebentou as calças, girou consigo
mesmo e entornou palavreados pela boca que não tirava simples falácias.
Delirava. Gemia. Balbuciava. Patinava. Alucinava. Falava sem provérbios o que
nem se quer se entendia. Todos assustaram-se. Pegou no pai a 25, pelas golas.
Carregou o velho igualando-o à sua altura de dois metros, mesmo com pernas
arqueadas. Estragado era alto. Corria quilómetros de altura. E com seu pai ao
mesmo nível de altitude, rebentou a voz dizendo: Afinal quem é meu pai?
É verdade. Estragado estava decidido a estragar o pai para saber
quem era seu pai! Uma tremenda loucura. Como pode? Perguntavam as bocas famintas
de curiosidades.
Entretanto, o velho espinluncava sob o domínio do ora emouquecido
filho, o Estragado. Tremia, transpirado até aos calcanhares. Calculava os
metros que o separavam do chão com temor e ansiedade. Temor de lhe ser
emprenhada uma aterragem brusca e ansiedade em estar de facto no chão que o
seguraria com mais conforto. Estragado ainda dungava o pai com ameaça de o
estragar caso não revelasse o grande segredo. Cavilhava-o, sem dó. Amassava-o.
Esticava-o a pele rugosa juntando-a com a camisa pela gola. O velho tremia no
olhar da vizinhança boquiaberta. Estragado não era homem de cometer tal delito.
Nunca se vira, muito menos se imaginara tal atitude por parte de tão perene
gente que era o Estrago. Então dali saiam as conclusões, Estragado estava mesmo
de juízo estragado.
Enquanto agitado o quintal, a mãe chega de trás. Estragado solta o
pai de imediato e vira para a mãe com a mesma indagação – quem é meu pai, mamã?
– e nada de resposta. A mãe apenas palavreava de um lado para o outro.
Vociferou em tons de ameaça contra o filho, mas este continuava e mais
agressivo ainda.
Então, na ausência duma resposta que o satisfazia, Estragado
correu para a cozinha e de lá, veio a rua com uma faca. Cortou a pele. Viu que
era pouco. Pegou numa lâmina e foi depenando-se centímetro a centímetro, para a
dor da mãe, senhora já separada do pai e vivendo no lar doutro homem no bairro
vizinho. Já com o sangue a espaçar-se pelos braços, vira-se a mãe, dizendo:
Olha, mamã… olha para este sangue e diga-me a que pai pertenço?
Sou filho de quem? Diga-me a verde, já!
A mãe era redundante no falatório, contudo, nada dizia sobre o pai
do Estragado. E continuava a sua loucura, estragando-se a si próprio. Até hoje,
diz-se na zona, Estragado está maluco. Caso para entrar nos dizeres da
população, os nomes fazem a personalidade do homem. Como pode Estragado ser
nome de alguém que nem se quer é estragado? Consequência, agora estraga-se a si
próprio, estraga o murro dos vizinhos, estraga corpos agredindo e etc.
Mas na sua loucura, Estragado também arranja, continua um bom
pedreiro como aquele dos tempos da construção da barraca da minha casa e de
muitas outras infra-estruturas a nível local e não só; Pintor e rachador de
lenha, para além de ter boas habilidades para cabeceador de bolas e carregador.
Sem comentários:
Enviar um comentário