7.12.12

Duas canções da Primavera



Para Odete Semedo,
Conceição Lima
Filinto Elísio
Fernando Leão
Não conheço o nome destes versos
conheço as lágrimas que choras,
sei as cores que devotas
sei dos pés da sua mãe
e da janela por onde ela saiu quando partiu.
Vi-a nos seus olhos de cor de água,
são vermelhos? Veem o mundo? Choram?
Não. Cantam a voz da sua alma.
Nossa alma, irmã-mãe
das nossas ilhas do tempo por onde emigraram nossos pais
pelos ventos,
e encontraram-se nos mares.
Nossa voz, no berço das almas que militam os nossos padrastos ancestrais
futuros deuses de nós, nós que somos filhos de ninguém,
mas da cor da vida e morte que ainda não morremos.

IIª
A mátria poesia nossa

Em que palavras se dizem estas sinas?
Mergulhas nas almas de um céu no além,
ululosamente pedestres no nosso medo.
Que espaço essas vozes têm, nas terras onde nascemos e crescemos
cantamos e bebemos do sangue dos nossos ancestrais?
Pai-nosso, esta mátria terra de dissabores na espera sentada dos ventos do norte
de onde há de vir a primavera?
A primavera, irmã, a primavera!
Nossa voz, nosso tom, esta pele mátria,
no mátrio alimento dos deuses de ontem,
velozes e de longe,
na anatómica voz que nunca fala.
Nós e nós, todos sem nós,
os nossos solos mátrios, madrinhas do sol
que nos queima o estômago vazio
que nos raspa o esófago seco,
dentes entreabertos e rígidos da carne viva dos nossos pais e mães,
cães de ontem
hoje, soterrados na história e vivos na memória.
Quem os lembra? Quem os conhece?
nós irmã,
nós e a nossa voz,
os seus nomes, o barulho dos seus passos, os seus hinos,
conhecemos os coros que cantam de lágrimas brancas
longe como nós que partimos para dentro de nós
sem deixar a terra mátria,
terra pátria,
de homens, mulheres e deuses esquecidos.

Xiguiana da Luz, 16 e 17.11.12, Fortaleza