Iª
Para Odete Semedo,
Conceição Lima
Filinto Elísio
Fernando Leão
Não conheço o
nome destes versos
conheço as
lágrimas que choras,
sei as cores que
devotas
sei dos pés da
sua mãe
e da janela por
onde ela saiu quando partiu.
Vi-a nos seus
olhos de cor de água,
são vermelhos?
Veem o mundo? Choram?
Não. Cantam a voz
da sua alma.
Nossa alma,
irmã-mãe
das nossas ilhas
do tempo por onde emigraram nossos pais
pelos ventos,
e encontraram-se
nos mares.
Nossa voz, no
berço das almas que militam os nossos padrastos ancestrais
futuros deuses de
nós, nós que somos filhos de ninguém,
mas da cor da vida
e morte que ainda não morremos.
IIª
A mátria poesia nossa
Em que palavras
se dizem estas sinas?
Mergulhas nas
almas de um céu no além,
ululosamente pedestres
no nosso medo.
Que espaço essas
vozes têm, nas terras onde nascemos e crescemos
cantamos e bebemos
do sangue dos nossos ancestrais?
Pai-nosso, esta
mátria terra de dissabores na espera sentada dos ventos do norte
de onde há de vir
a primavera?
A primavera,
irmã, a primavera!
Nossa voz, nosso
tom, esta pele mátria,
no mátrio
alimento dos deuses de ontem,
velozes e de
longe,
na anatómica voz
que nunca fala.
Nós e nós, todos
sem nós,
os nossos solos
mátrios, madrinhas do sol
que nos queima o
estômago vazio
que nos raspa o
esófago seco,
dentes
entreabertos e rígidos da carne viva dos nossos pais e mães,
cães de ontem
hoje, soterrados
na história e vivos na memória.
Quem os lembra?
Quem os conhece?
nós irmã,
nós e a nossa
voz,
os seus nomes, o
barulho dos seus passos, os seus hinos,
conhecemos os
coros que cantam de lágrimas brancas
longe como nós que
partimos para dentro de nós
sem deixar a
terra mátria,
terra pátria,
de homens,
mulheres e deuses esquecidos.
Xiguiana da Luz, 16 e 17.11.12, Fortaleza