Contos

Nyanga

E diante da multidão se expressara o curandeiro que se considerara ideal para o adivinhamento daquela que seria a virgem sagrada. A virgem que salvaria Nkomane do Deus me livre que vivia. O nyanga, fora das preferências confiadas pelo rei. Tal confianças, justificavam-se pela vinda deste de terras desconhecidas, associando-se a sua origem a coisa de deuses do além.
De facto o nyanga não tinha feições familiares e estava de requisitos completos para a nobre cerimónia da escolha da sacrificada donzela. Era Nguni. Alimentado pelos espíritos da água.
Expostas, estavam as mulheres cercadas por outras multidões que por decreto, tinham que presenciar o escândalo de pele nua que se assistia.
Foi dada a ordem para que o nyanga fembasse. Começou bebendo a água dos defuntos. Depois navegou em instantes de silêncio profundo, justificados pelo seu assistente, Malaquias, como um momento de solenidade entre o nyanga e espíritos celestes. Dali, sairia a verdade com os poderes dos deuses mais fiéis a ele. Estes que o conferiram o poder supremo dos adivinhamentos.
O silêncio prevalecia na tribuna de honra, rei Ngonhama, régulo Kuhanya, e outros homens conselheiros reais. A ansiedade entre os espectadores era maior, mas ninguém ousava entrar em conversações com o vizinho. Apenas monólogos.

O que será que faz ele ali calado de cócoras coberto do manto sagrado?
As suas mãos estremecem e os olhos transformados em bolas de neve… será que ainda vive?
E quem será a tal donzela que salvará este Deus me livre o infortúnio maligno.
Não mais queremos que se repita o fim que presenciamos, sem mais algo por fazer, por isso, se este nyanga vai mesmo encontrar tais espíritos que os encontre logo e saímos desta pouca vergonha instalada em plenos olhares das crianças.
Mulheres deste tamanho não deviam enudecer-se em frente de homens desconhecidos, só e só para achar uma ‘única rapariga?
E não se sabe que estas mulheres já se distanciam de tal donzelisse?
Quero só ver…
Lá vai o homem acordando do além que navegava. quem será a tal!

E o nyanga finalmente volta a terra. De olhos transladados para horizontes terrestres corre sem destino. Cospe inverdades e vibra de suficientes energias espirituais. Vai se saber já agora quem é a donzela. O nyanga vai fembar! Vai Adivinhar.
Agita-se para o lado do norte. Todos agora ficam de mãos na nuca. Todos – a plateia composta por homens em olhares à mulheres nuas. Norte em tradições destas terras não tem nada de sagrado. Apercebe-se o nyanga. Volta para o sul, mais para o lado direito e esquina-se numa mulher de idade avançada, do lar dos sessenta. O povo agita-se de susto.
- Como pode?
- Afinal não se está a procura duma donzela?
- Mas esta mulher está já cansada de dar filhos.
- De onde é este nyanga?
Todos resmungavam sob olhar ainda impávido do rei que depois ordena.
- Silêncio. Deixem o homem fazer o seu trabalho.
Calam-se os gritos da multidão, mas os murmuros, esses não foram possíveis de parar. E o rei volta a discursar.
- Silêncio. Com certeza não será esta a donzela. – Ordena para mais uma tentativa.
E o nyanga, mesmo fora de si, volta a simular delírios, desta vez mais convincentes, corre sem parar.
Cai. Para o espanto de todos ficara escolhida Nikotile. Pelo menos desta vez, a multidão conteve o susto, seria uma escolha justa. Nikotile, era nova e já mais se soubera do seu envolvimento com um homem.







A Assassina das Rosas Vermelhas







Às tardes passava da Escola Industrial primeiro de Maio, na capital de Maputo, não estudava ali, mas gostava daquela esquina, é porreira.



Havia um jovem, cujo nome ainda vou consultar, vendia rosas, talvez de todas as cores, será possível? Bem se é possível ou não, deixo de saber ou melhor não dava para perceber, porque sempre que olhava para aquele lado, coincidia com o olhar de uma mulher, bonita e elegante, na verdade parecia uma sereia que um simples peixe, uma mulher que cativa qualquer olhar atento, com uma voz suave, um olhar bastante firme, com um tom de inocência, em fim, um cativeiro que cativa a todos.



Quando olhava para aquele lado, via – lhe sempre com uma rosa vermelha na mão, e era assim todos os dias, pelo menos quando passava.



Foi assim por muitos dias, até que num deles decidi cumprimenta – lá, e não fugia a regra, virava a cabeça com os cabelos voando, arranjava – os com as mãos, molhava os lábios e piscava o olho, para o meu sufoco, sempre levantando as rosas. Noutro dia também foi assim, até que acabei ganhando coragem e perguntei – a :



- Entre você e as rosas, qual é a intimidade que existe? Principalmente as daqui do...deste rapaz!



- Aceitas uma?



- Não obrigado. Não vejo o porquê.



- Bem, prefiro não existir – retorquiu a cachopa de decote assustador e retirou – se da minha frente.



Oportunidades de vê – lá não me faltaram, só que dessa vez infelizmente não foi na esquina das rosas, aliás era uma esquina de rosas sim, mas diferente à do costume, no cemitério.



Não tive coragem de olha – lá duas vezes, nem se quer a cumprimentei, estava de luto e aos gritos rebolando ao chão. Diante do susto da donzela, não restaram – me alternativas, diferentes às de salientar com migo mesmo sobre a triste perda que a Rosinha teve. E assim foi, quem não desperdiçou foi o coveiro que estava do lado direito, por sinal escondendo – se de alguém, um daqueles rapazes que sempre tem pendentes no cemitério.



- Essa daí...acho até que a direcção do cemitério vai construir – lhe uma residência aqui dentro – comentava o coveiro comum ar familiar.



- Já o fizeram para alguém antes?



- Não, mesmo se o quisessem, no mundo, até pode se morrer a sério, mas não temos um cliente tão assíduo como esta senhora, sempre daria no mesmo. Concluiu.



Amedrontado, fiz – me de contrário dos seus comentários, ausentei – me do seu lado simplesmente. Não que as suas palavras tenham me intimidado, mas qual é a verdade que não dói a ninguém?



Um dia desses encontrei – a novamente de luto, pelo que pude notar, novo e também com novas lágrimas, inteirando novo cadáver no mesmo cemitério. Não tardou para recordar – me das palavras do coveiro intrometido e perguntei para mim mesmo porque é que a direcção do cemitério precisaria de lhe oferecer uma residência por dentro?



Enquanto andava, via campas que por perto estavam, algo fazia - me entender que cada uma delas acendia o vermelho, neles só homens estavam inteirados, pelas fotografias, novos e bonitos, tanto que qualquer um que passasse percebia a perca que o pais teve, fiquei com medo, tudo parecia óbvio de mais para constituir a verdade, juro que não queria acreditar.



Talvez seja por isso que comprava rosas todos os dias, vestida de uma maneira magnífica.



Soube ainda que eles morriam de casamento marcado com ela e depois de uma relação sexual.