31.7.11

Se o seu amor for verdadeiro...

                               De mim
                                                       

                                                                 nem a morte ti separará

Estou com o coração a arder...



De coração a arder...
Com uma lâmina a cerrar as veias,
Uma agulha na garganta,
Com o silêncio sem voz,
Com vontade de gritar e ficar mudo de vez
E estou com vontade de chorar também.

Se queres saber porquê, desista,
Porque nem escrever consigo mais
Sinto falta de mim
Estou sem orgulho de nada
Com uma dor que chega a sufocar

Eis o desabafo amigo!

27.7.11

Nkaringana wa Nkaringana...


O meu avô contou-me uma estória em volta da lareira, em changana, chamado Xitiku Ni Mbaula, falou-me do misterioso Ngungunhane, o último Imperador de Gaza, homem de tamanho assustador, grandeza dos deuses, algo inexplicável entre os humanos. Gordo, barrigudo, barbudo, cheio de banhas e manhas que o faziam ngungunhar por todas terras do vasto império. Tinha tudo quanto queria. 
Ngungunhane, imperador de Gaza
Ngungunhane era o terror em pessoa, ninguém o podia enfrentar e afrontar. Movia relâmpagos e mochos quando se zangava. Era tudo poderoso e todo temido. Os portugueses que o digam. Ngungunhene era um Ngoni e não se entendia com os Chopis, povo que a todo custo tentou dizimar. Queria porque queria ngungunhar em todas terras daqueles homens ximakwas. Ximakwas em changana são os baixinhos. Os chopis são assim. Ou pelo menos eram, porque agora tudo se misturou. O meu avô alongava e dramatizava o quanto podia. Secundado pela minha mãe. Tudo ka xitiku ni mbaula
Em volta da fogueira. E foi prosseguindo. Um dia os portugueses invadiram o império. A sua dinastia estava ameaçada. Tinha mandado os homens mais fortes que lhe serviam de guarda vital, para caçar uma e única andorinha que lhe lançou uma cagadinha enquanto esticava a sua barriga em baixo dum Mpama. Mpama é uma árvore cujos ramos fazem uma sombra de invejar. Uma sombra que relaxa e espanta todo o cansaço. A sombra dos deuses. Por isso que Ngungunhane estava por de baixo. Era o Deus do império de Gaza. 
Mas os tugas vieram com tudo, aproveitando-se da fragilidade que o império ganhou com os soldados mais fortes a procura da tal andorinha que lhe tinha tirado o senhorio. 
Entraram e caçaram-no como o cão tinhoso. Prenderam-no como se já não se tratasse do terror que dominava qualquer ousadia. Levaram-no para Portugal e fizeram-no comer bacalhau. Ngungunhane não come peixe. É Nguni. Nguni é irmão de peixe. Aliás, Nguni é peixe, por isso não se pode comer a si mesmo. Mas os portugueses o obrigaram a comer o peixe. Ngungunhane se comeu e... O meu avô morreu. Morreu sem acabar esse Nkaringana. 
Agora ando a procura de quem a possa concluir e não acho. A minha avó ainda está viva. Mas desconhece essas lendas. Mesmo quando o marido vivia e nos contava, ela desmentia.

26.7.11

Carta de Mbie à Nikotile

Homens desta terra,
Chamaram-me para educar seus ouvidos,
Surdos e mudos,
Cegos e cheios de vozes que não deixam nenhum dizer,
Dizem que és tu a culpada meu amor, mas sei que não.
Encheram-te de desilusões na cabeça. Na cabeça sim eu sei, porque na alma vice me trancou e não deixa ninguém entrar.
Pediram-te sexo, entre a vagina, os seios e lábios amelados, a sua beleza informal, eles levaram tudo isso.
Eu sei Kotile.
Sei também que você não é deles!
Ofereceste-os amizade e amor,
Provando a sua lealdade aos vagineiros deste mundo selvagem. Mundo que não sabe amar. Mundo com homens que sem piedade vão fazendo dos seus nesse teu coraçãozinho pequenito. Cheio de pequeneza e pureza.
Eu sabia que é isso mesmo Maputo…que é assim mesmo Ka Mpfumo dele.
Sabia também que te entregarias demasiadamente à esses nholwenes, viventes desse mundo que não lhes pertence.
Disseram-me em jeito de gozo que venceriam esta luta em que senti-me sozinho, a combater leões, tigres e leopardos famintos, dependentes da caça. Caça aos mais sensíveis.
E sempre soube das intenções desses recuados do tempo. Mutantes destes dias. Predadores sem objectivo, que na verdade são exterminadores de virgens deste Nkomane, até do Deus mi livre que Deus há-de levar pelas maldades.
Virgens que seriam escolhidas de Cristo para o reino das bruxas e as mãos doutras donzelas que desta vida passaram.
Sabia Kotile…eu sabia tudo.
Sabia que levariam-te para lá depois de revelarem-se falsosamente, seus amantes e apaixonados, fiéis e venerandos.
Na verdade não prestam. São das impurezas…
São palavras atormentadoras e sem espírito que ti seduzirão a tombar no palácio da morte.
Ha! Nikotile, quem diria va hetile…são os mufanas de uma cidade grande e cheia de maldições. Maldições que agora você também tem!
Hoje os espíritos vigam-se das suas decisões de ir a capital, cobrindo-se de sacos, movendo-se à fome e esfregando-se aos homens machos que agressivamente ti fazem.
Esperava ti amar e ter-te um dia…mas o que poço fazer depois de tantos que com metical fizeram tudo?

Seu eu Mbié

A morte e o seu disfarce!


Ela vem como vida,
Dor fingida,
Alma onde habita,
O lado preto da vida.

Não é vida,
É ida sem volta
Ira imposta
Pelo desespero sem resposta.

Não é vida,
É Imagem perdida,
Partida compromoetida,
O escuro que assombra com asas de liberdade.

É o diabo e as suas vaidades,
Maldades,
Escravas da divindade.

É o diabo e os seus cornos,
Espalhando seus chifres,
Na boca faminta
E farta de aventuras

É o alto na ignorância do Altíssimo!

25.7.11

Paulina, amor de eu

Esses beijos molhados,
Esses beijos amolados que desaprovei,
Esses beijos vermelhos que desconheço…

…Diga…são para mim?

Essa boca prateada,
Esses lábios de Eva,
Esse gostinho de felicidade,
Essa boca…

Diga…é para mim?
Diz que me pertence esse corpo amaldiçoado de amor,
Esse destino dos prazeres que és…diz…

Diz que tudo isso é meu,
Chama-me de Ndjombo (1),
Suplica o meu amor
Apelida-me seu mulumuzana (2),
Faz-me seu muzandziua (3) …

Diz…diz tudo que é para mim
Entrega-te a este homem empobrecido de carinho,
Chama-me para ser Madjokodjoko (4) com sigo,
Deixa os Ntubeleluanas (5),
Amara capulana (6)
E despede a kokwana (7)
Hoje você vem com migo
Nós vai fazer Mutchato (8) Paulina,
Hoje nós vai ser tudo Paulina
Nós vai se amar na palhota dos Swikwembos (9)
E vai fazer vovô Mavasse (10) ser Kokwana outra vez


Pequeno Glossário
1 – Sorte
2 – Marido, Pai de Família (expressão usada por povo changana, do sul de Moçambique, para designar a um chefe de família)
3 – Amado
4 – Expressão usada na infância para referir-se a prática do sexo. Linguagem adaptada para não chamar as coisas com o próprio nome.
5 – Escondidas (brincadeira de infância no escuro).
6 – Tecido decorado, típico de África (usado principalmente pelas mulheres)
7 – Avô, Antepassado, Ancião, Vovô.
8 – Casamento
9 – Deuses (geralmente quando usado no plural serve para referir-se a espíritos dos antepassados ou mesmo a feitiçaria)
10 – Nome tradicional, usado geralmente, pelo povo Changana, do sul de Moçambique.

9.7.11

O Primeiro cliente


Puta – disse o homem empenhando a a mão com mil quilogramas de borrada no rosto da mulher sexist. Tal mulher era Kotile. Menina que antes for a em terras que a honravam, com toda dignidade e esperaça.
Era ainda o seu primeiro hoem. Antes nenhum o tocara com tanta hozadia. Kotile percebera a vingaça da vida na Rua Araújo e a traição da cidade grande que for a dos seus sonhos. Ka pfumo não era nada. Antes se chamasse qualquer coisa. Mas que não fosse como se chamava. Mas Maputo é nome parecido com Puta. Embora não seja a razão.
Medinho, for a esse o tal hoem que com osadia e macheza olhou para Kotile na Rua Araújo como pessoa dígna da sua compra, para garrantir a sua o sucesso do seu primeiro dia laboral’
Era sexta-feira. Dia 13. Dia das bruxas. Bruxas femeninas. Os machos são bruxos, por isso que aprecera um homem. Agora é assim mesmo. É imancipação até na brucharia.
Nos corredores daquela rua, pisavam-se as lágrimas sileciosas da Kotila, circulava com mine saias, cujo tamanho não era digno de se chamar de mine saia. Parecia uma pura roupa interior. Pura porque era mesmo quase que um espelho lambido pelo orvalho. Se via tudo. Tudo mesmo.
Kotile era donzela, com pernas perpendeculares e ancas particulars. Não eram ainda dignos de destaque, mas os homens viam e viram. Os passos da sua inocência, ainda que transportacem a timidez da sua pele e o ardor do seu coração, pela pouca vergonha, chamavam e atraíam a clientele. Que fazer. Coisas do coração não se vé. Diziam sempre a Tia Distina com o seu portugues pacato. “vamos fazer mais como. É assim mesmo nwananga…”
Em instants de camera lenta, Kotile lebrara-se desses dizeres.
-          Filha o corpo de uma mulher assusta. I ma singita!
E a mare subia. Kotile choravam para sasssear os remorços e a raíva do tempo. As lebranças que não deslembram. A verdade que não se omite e a realidade eminente. Era seu dia de sexo. Seria na Rua Araújo. No quintal de aluguer nos guardas da cidade. Ou na escadaria das ruínas da baixa. Onde ela baixava as saías para finger que vestiu-se de saia. Mas não era nada. Era nudez e pouca vergonha. Batom carregado fazendo os seus lábios de sangue seco. Resultado de muita sangração e dolorosa dor. Os olhos pitandos a lapis de carvão, rimavam com o choro dos monchos sem abrigo e desabrigados nos ramos do Tunduro que cai e descai velho.
Aproxima-se medinho e despença apresentações dama!
-          Quanto é que é…?
Calou-se Kotile. Levantou o nariz e fingiu que respirava com vida. Mas o homem persistia e cada vez mais ensistia. Como se fosse um acto de conquista.
Enfiou a mão pelas curvas das bem aventuranças e esmagou-lhe com força e dureza.
Kotile forçava-se a não reagir. Mas as mãos do homem foram mais longe. Medinho era homem macho. Fazia parte dos melhores da casa. Era cliente das noites da pouca vergonha. Todas o conheciam pela sua dureza, mas também, for quem tinha a missão de receber as novatas.
O distino traíra Kotile e o homem. Medinho fora o escolhido para receber a encomenda que caíra das bandas do Nkomane, nas margens de lá, onde Deus livrou-se dos homens e libertou os defuntos. Mortos que desafiaram os poderes da eternidade. Ou moriam para sempre se não quizessem viver para sempre. Advinha o que escolheram? Viver para sempre. Tombaram num inverno e noutro ressuscitaram com vinganças. Queriam vidas e mais vidas para que as professias se concretizassem. Quais professias? Que Nkomane não for a destinado aos vivos temporaries. Era para os vinventes das eternidades.
Aos passos da recusa. Viu-se, Kotile, obrigada a encostar a parede e Medinho avançou-se com rapidez da água para o interior. Chegava ao ponto do alcance da pureza. Lá onde as mine saias já não conseguem proteger perante a sua masculinidade.
-          Ni tsiki! – gritou Kotile sem mais suportar tal acto de obrigação sexual – mussatanhoku. Não me toques!
-          O qué. Sabes quem sou? Medinho. Nenhuma mulher nega-me nestas bandas e não serás a primeira. Puta! - Apressou-se para a purada com a mão possuida por forças já antes vistas de si.
Kotile consentiu-se em instantes de silêncio no chão. Fora a primeira mão a lhe roçar o rosto com tamanha força. Sente com muita dor os efeitos da bofetada. Pensa em silêncio mortífero. Em algum momento acredita que não tem mais dentes. As axilas não se sentem e a lígua pareceu ter abandonado a sua boca. Cospe sangue e lágrimas fervidas. Chora. Mas é tudo em vão.

O Apocalipse


Muitos adivinhos já não sabiam nada do que acontecia em Deus me Livre!
Nenhum adivinho podia adivinhar tudo que se passava em volta do apocalíptico momento que pusera em apuros a antiga terra sagrada.
Podia espaçar-se muito no meio daquele nhima-nhima, que se instalou nas terras dos deuses, sem se quer distribuir minutos de tolerância. Os sacerdotes ainda tentavam dizer alguma coisa.
-          Mãe de misericórdia, mãe do Salvador, assista-nos nesta última agonia que se aproxima. – E ainda apelavam as multidões que fizessem qualquer reza.
-          - Orai irmãos, ao Deus nosso senhor.
Por outro lado ouviam-se gritos de socorros e nhandayeyos. Ninguém podia rezar, no lugar de agir com própria confiança e esperteza.
-          Já o demos oportunidade de fazer alguma coisa e nada fez. Deus que mata nunca dera vida!
-          Quantas vezes os nossos filhos, pais, irmãos, tios e sobrinhos, gritaram o nome desse Deus tal, antes que estas terras os levasse para as profundezas do além?
-          Orai vocês mesmos pelas vossas próprias vidas e aproveitem para dizer a Ele para se preparar, porque daqui a pouco estas terras que criou com a própria mão, vão me levar para junto dele e vou o matar pela segunda vez e será para sempre…sem ressurreições.
O antigo sacerdote exigia do seu próprio criador que dissesse a verdade às massas – “morrereis pelos vossos pecados” – E assim parecia ser.
Os homens que antes confiavam nas suas mãos para fazer alguma coisa já o faziam com os pés. Corriam como se fossem aves…velocidade por demasio desespero.
Tudo acontecia em jeito de “nunca vi”. Crianças que nasciam em cima de árvores. Ndambini que o diga, nascera por baixo do céu, onde todos homens se escondem quando estão nus.
A sua mãe esquecera no meio da correnteza das águas assassinas, toda esperança: casa, roupa, comida, patos e etc. esquecera também das dívidas e da pobreza.
Subiu na árvore com a barriga de que dependia sua filha antes de sair. Todos ficaram a conhecer o Deus me livre que se passava do tempo.
Os Cabrais deixavam também debaixo do solo que engoliu as nossas vidas: dinheiro e herança, fortunas e projectos de lucros fartos. Mas levaram com sigo os terrores do seu racismo que sempre se fez presente na pele dos pretos que os serviam. Em troca de quê? Em troca de torturas.
E o rei Ngonhama, ainda não tinha partido para seu eterno destino. Feiticeiros, curandeiros e adivinhos o protegiam.
Na altura, pairavam dizeres sobre leões que habitavam nas florestas das redondezas e que pertenciam a sua dinastia.
Todos eles eram parte do seu corpo e cada homem que matavam, a ele fortaleciam.
Não eram apenas falácias. Muitos foram os que confirmaram. Malaquias, for a exemplo dos que com a sua carne, os leões deram vida ao rei. Viu seu traseiro espetado aos caninos dos indomáveis. Também ficou ferra, mas ferra de ferido. Morreu. Depois de ter passado setenta e duas horas em delírios de dor. Dormia de barriga, mas podia se alimentar. Não podia. Porque ele é que era o alimento. Comida do Rei Ngonhama.
Dizia-se também que a vila do Leproso era outra parte da sua vida, enraizada nas terras mais selvagens do continente, até o Mwamulambo, cobra dos deuses, se rendia ao temido homem com curvas dos diabos.
Todos os feiticeiros, curandeiros e adivinhos o protegiam. Até os sacerdotes invocavam o seu nome na hora das bênçãos.
Todos viventes sabiam porque tinha que desaparecer mensalmente do seu lar, alguns bois e donzelas. Eram para seus Nhamussoros. Os seus Nhankwaves. Alimentando o seu obscurantismo.

E cada vez mais se engolia a terra que antes fora sagrada.

Ninguém estava para justificar alguns acontecimentos que registavam-se em jeito de Swo Suketana swiku… sim. Tudo tal como diziam as lendas. De repente…
Do Deus me livre, tal como os deuses se livraram, os homens também se iam na maior estranheza.
Cada segundo uma vida entregava-se ao inferno. Pouco a pouco Deus me livre livrava-se de gente. Ficava terra do Nada. Ninguém já habitava o lugar.