Xiguiana da Luz
Dou os olhos ao rosto. Emagreço o
corpo. Há um vulcão que escorre-me por dentro. Calo. Sinto. Escuto a voz do
rompimento. Mas não vejo. Não entendo. O que será esse rio que passa do meu corpo
e deixa as margens repletas de dúvidas? Desassocio-me. Saio pelo mundo a fora.
Há um lugar para mim em qualquer canto. Estou cheia. Porém, sinto a iminência
de um vazio. Logo vazarei. Há um precipício que se aproxima. Um vendaval. Caio
na cama deitado de costas. Estico-me. Levanto os braços por sima dos meus seios
de menina. Alongo a barriga. Dá-me vontade de coçar o umbigo. Descontraio-me.
Medo e dúvida. Tudo método do desconhecimento. Sou menina. Sou desconhecida. O
que tenho por dentro é meu. Mas o que tenho por dentro não é meu. Não conheço.
Não oiço. Fecho os olhos. Rezo à qualquer coisa. O que será? O silêncio. A
humidade. Estou molhada. É por entre as pernas. O que será? Levanto as costas
da cama fria. Miro o além antes de chegar ao destino. Estou só. De cabeça entre
as pernas e os olhos no chão da cama, espalha-se o vermelho. É sangue. Sangue
denso! De onde vem? Hemorragia! Vem de mim. Deverá ser o que vem de longe. Mas
não sei o que é! Levanto-me com a pressa divina. Levanto os lençóis tiro as calças
brancas ora envermelhadas. O corpo vence o sol. E outros olhos viram. É o mês.
É o mês. É o mês. É vermelho. É sangue. Mas não é sague qualquer. É sinal de
mulher. Sou mulher? Mas sou tão pequena! Tão menina! Não é hemorragia! É o mês mênstruo
que chegou. Sou mulher! Abriu-se em mim a terra fértil por onde as águas turvas
escorrerão com frequência. E na primeira chuva, a primeira semente brotará. Sou
mulher, mas tão pequenina! Tão menina!