31.1.11

Espírito de mestre

(em memória a Malangatana Valente Ngwenha)



A vangana vakwe...

A pfa va muzonda...

Xikwembu xi swi tsumbula xi hantla xi mu pheula...



Partira daqui um dia, sem saber se voltaria,

Fugira com migo um mundo submisso neste moribundo limite.



Não era ninguém,

Não era eu nem ninguém,

Era qualquer coisa,

Mas que não se igualava ao mundo.

Nem os deuses do céu me conheciam,

Era arbusto da minha própria nação.



Era homem de qualquer homem,

De brancos e mulatos,

De negros brancos e negros mulatos,

Era de todos estes e mais

Era dos nhankuaves e outros espíritos,

Só não era de mim...



A nina mamana...

Anina kokwane...

A nina malume...

Ni yo sala ni yo gó!!!!! (2x)



Todos não me sabiam.



Acolhiam em becos do nada,

E silenciavam-me a pancada e ximbomana,

Enxugavam-me as lágrimas com pão seco,

E gritavam no meu ouvido...

A burrice e a pobreza da minha terra,

O selvagismo do meu povo

E a ignorância dos pretos assimilados da escravidão



Não era eu...



Acolhiam-me em berços cheios de cravos

E mãos cheias de lâminas,

Cortavam o meu rosto,

Batiam, no meu corpo,

Esmagavam os meus dedos,

E rasgavam o coração patriótico,


Não me chamavam de meu nome,

Chamavam-me de Ngwenha,

Alimentavam-me de sangue,

No lugar do pincel que gritava a minha voz,



Ao hume moya...

Namutla ku ni moya... (3x)



Era eu…

Nas noites escuras

No silêncio dos homens e das armas,

Gritava com os ruídos da coruja

Os feiticeiros que tomaram a minha mãe,

E outros desconhecidos que roubaram-me a paternidade,

Eu nascia naquela hora,

Nem todos acolhiam esta alma dos deuses vitalícios

Nem todos deixavam-me pintar pessoas sofridas da minha terra,



As minhas telas não choravam pessoas,

Gritavam e reivindicavam o abrigo merecido...



A nina mamana...

A nina kokwane...

A nina malume...

Ni yo sala ni yo gho!!!!!!!!!!


Eduardo Quive

eduardoquive@gmail.com

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