2.11.11

Nyanga

E diante da multidão se expressara o curandeiro que se considerara ideal para o adivinhamento daquela que seria a virgem sagrada. A virgem que salvaria Nkomane do Deus me livre que vivia. O nyanga, fora das preferências confiadas pelo rei. Tal confianças, justificavam-se pela vinda deste de terras desconhecidas, associando-se a sua origem a coisa de deuses do além.
De facto o nyanga não tinha feições familiares e estava de requisitos completos para a nobre cerimónia da escolha da sacrificada donzela. Era Nguni. Alimentado pelos espíritos da água.
Expostas, estavam as mulheres cercadas por outras multidões que por decreto, tinham que presenciar o escândalo de pele nua que se assistia.
Foi dada a ordem para que o nyanga fembasse. Começou bebendo a água dos defuntos. Depois navegou em instantes de silêncio profundo, justificados pelo seu assistente, Malaquias, como um momento de solenidade entre o nyanga e espíritos celestes. Dali, sairia a verdade com os poderes dos deuses mais fiéis a ele. Estes que o conferiram o poder supremo dos adivinhamentos.
O silêncio prevalecia na tribuna de honra, rei Ngonhama, régulo Kuhanya, e outros homens conselheiros reais. A ansiedade entre os espectadores era maior, mas ninguém ousava entrar em conversações com o vizinho. Apenas monólogos.

O que será que faz ele ali calado de cócoras coberto do manto sagrado?
As suas mãos estremecem e os olhos transformados em bolas de neve… será que ainda vive?
E quem será a tal donzela que salvará este Deus me livre o infortúnio maligno.
Não mais queremos que se repita o fim que presenciamos, sem mais algo por fazer, por isso, se este nyanga vai mesmo encontrar tais espíritos que os encontre logo e saímos desta pouca vergonha instalada em plenos olhares das crianças.
Mulheres deste tamanho não deviam enudecer-se em frente de homens desconhecidos, só e só para achar uma ‘única rapariga?
E não se sabe que estas mulheres já se distanciam de tal donzelisse?
Quero só ver…
Lá vai o homem acordando do além que navegava. quem será a tal!

E o nyanga finalmente volta a terra. De olhos transladados para horizontes terrestres corre sem destino. Cospe inverdades e vibra de suficientes energias espirituais. Vai se saber já agora quem é a donzela. O nyanga vai fembar! Vai Adivinhar.
Agita-se para o lado do norte. Todos agora ficam de mãos na nuca. Todos – a plateia composta por homens em olhares à mulheres nuas. Norte em tradições destas terras não tem nada de sagrado. Apercebe-se o nyanga. Volta para o sul, mais para o lado direito e esquina-se numa mulher de idade avançada, do lar dos sessenta. O povo agita-se de susto.
- Como pode?
- Afinal não se está a procura duma donzela?
- Mas esta mulher está já cansada de dar filhos.
- De onde é este nyanga?
Todos resmungavam sob olhar ainda impávido do rei que depois ordena.
- Silêncio. Deixem o homem fazer o seu trabalho.
Calam-se os gritos da multidão, mas os murmuros, esses não foram possíveis de parar. E o rei volta a discursar.
- Silêncio. Com certeza não será esta a donzela. – Ordena para mais uma tentativa.
E o nyanga, mesmo fora de si, volta a simular delírios, desta vez mais convincentes, corre sem parar.
Cai. Para o espanto de todos ficara escolhida Nikotile. Pelo menos desta vez, a multidão conteve o susto, seria uma escolha justa. Nikotile, era nova e já mais se soubera do seu envolvimento com um homem.

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