7.6.11

Tembi já era minha!


Provara aqueles lábios com sabor a mel um dia, mesmo submerso da minha imaginação, surpresa pela confrontação dos factos.
Provocara de mim aquilo que antes não sentira com nenhuma mulher!
Era Tembi!
As tardes escuras das ruas feitas de capim, faleciam sob andar redondo da menina que olhara apenas os homens desconhecidos, e desconhecido eram os seus belos tributos, vítimas da cobiça alheia, impossível de disfarçar entre os homens.
Todos a desejavam, os mufanas (1) da zona e outros velhos das tradições, incluindo o vovô Fabião, assimilado para Fábio pelas perseguições a juventude ultrapassada.
Olhavam-na com olhos engajados de cobiça!
Lambiam os seus próprios lábios e contorciam-se com o seu gingar, sem nunca mereceram um agrado.
Tembi, não olhara aos homens com os mesmos olhos da Xiluva (2), Nália, Maraurau e outras meninas da escola, como Sheila, Noémia e etc.
Que o diga, sempre olhara para o rebolar do seu corpo, entre a cintura entulhada aos agrados e gestos confortados de delicadeza da sua fraqueza feminina.
Lábios carnudos e oleados, seios que ainda vinham ao mundo com demasiada timidez, olhos cor de laranja e nariz sempre de pé.
Todos gemiam ao seu cheiro consumido de mpfucua (3), parecia uma seria dos pescadores nos altos mares da baia de Maputo.
Eram, Swikwembos (4) na boca dos maiores feiticeiros do Mambone, adivinhando o futuro de todos os homens e outros que a desejavam. Mas ninguém a teria.
Também a olhava!
Também a venerava como os outros Fábios e Domingunhos, das turmas!
A desejava como a mim mesmo nunca desejara!
Olhava para os seus lábios e sabia tudo que eles queriam: um beijo como da novela, claro, dado por mim!
Mas não podia.
Sei que Tembi, nunca olhara aos meus olhos.
Pelo menos, vivia ao meu lado, isso era tudo e me satisfazia, como os sons da flauta e xigubo que a minha terra despreza.
Os andares da Tembi, eram o coral dos anjos na terra que já não entende os vivos e não respeita os deuses da terra nem outros!
Eram os meus desejos sob o silêncio dos seus passos descongelados e escurecidos da vida.
Tembi andava com migo como com migo nunca andei!
Mas chegara o dia!
Numa tarde desentendida e diferente para sempre na vida dos meus beijos despercebidos!
Tembi me beijou!
Nunca antes sentira coisa igual, como naquele dia!
Aqueles lábios já não eram da deusa, eram de espíritos bravios desconhecidos, que muito mexeram com as nossas bocas!
Não tinha beijado ninguém com igual satisfação, depois da Carla!
E foram assim os meus dias naqueles dias, ao lado da donzela que todos olhavam sem desperdiço e sem saber porque, escolheu-me para efectuar o seu feitiço.
Beijo de Tembi é bom e é um feitiço sim!
Mas tudo era uma vez.
Na verdade, a donzela que é aquela menina, já não é.
Outros homens a desfrutam, e já era minha!

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Pequeno glossário
1. Mufanas – Rapazes, miúdos.
2. Xiluva – Nome que significa Flor. (em Xichangana e Ronga Xiluva é Flor)
3. Mpfuncua – maldição ou feitiço em Xisena (língua falada na zona centro e norte de Moçambique)
4. Swikwembos – Deuses ou espíritos em Xichangana e Ronga (línguas faladas nas províncias de Gaza e Maputo, sul de Moçambique.

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