O meu avô contou-me uma estória em volta da lareira, em changana, chamado Xitiku Ni Mbaula, falou-me do misterioso Ngungunhane, o último Imperador de Gaza, homem de tamanho assustador, grandeza dos deuses, algo inexplicável entre os humanos. Gordo, barrigudo, barbudo, cheio de banhas e manhas que o faziam ngungunhar por todas terras do vasto império. Tinha tudo quanto queria.
Ngungunhane, imperador de Gaza |
Ngungunhane era o terror em pessoa, ninguém o podia enfrentar e afrontar. Movia relâmpagos e mochos quando se zangava. Era tudo poderoso e todo temido. Os portugueses que o digam. Ngungunhene era um Ngoni e não se entendia com os Chopis, povo que a todo custo tentou dizimar. Queria porque queria ngungunhar em todas terras daqueles homens ximakwas. Ximakwas em changana são os baixinhos. Os chopis são assim. Ou pelo menos eram, porque agora tudo se misturou. O meu avô alongava e dramatizava o quanto podia. Secundado pela minha mãe. Tudo ka xitiku ni mbaula.
Em volta da fogueira. E foi prosseguindo. Um dia os portugueses invadiram o império. A sua dinastia estava ameaçada. Tinha mandado os homens mais fortes que lhe serviam de guarda vital, para caçar uma e única andorinha que lhe lançou uma cagadinha enquanto esticava a sua barriga em baixo dum Mpama. Mpama é uma árvore cujos ramos fazem uma sombra de invejar. Uma sombra que relaxa e espanta todo o cansaço. A sombra dos deuses. Por isso que Ngungunhane estava por de baixo. Era o Deus do império de Gaza.
Mas os tugas vieram com tudo, aproveitando-se da fragilidade que o império ganhou com os soldados mais fortes a procura da tal andorinha que lhe tinha tirado o senhorio.
Entraram e caçaram-no como o cão tinhoso. Prenderam-no como se já não se tratasse do terror que dominava qualquer ousadia. Levaram-no para Portugal e fizeram-no comer bacalhau. Ngungunhane não come peixe. É Nguni. Nguni é irmão de peixe. Aliás, Nguni é peixe, por isso não se pode comer a si mesmo. Mas os portugueses o obrigaram a comer o peixe. Ngungunhane se comeu e... O meu avô morreu. Morreu sem acabar esse Nkaringana.
Agora ando a procura de quem a possa concluir e não acho. A minha avó ainda está viva. Mas desconhece essas lendas. Mesmo quando o marido vivia e nos contava, ela desmentia.
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