Foi com grande honra que
recebi a proposta de servir o wellcome drink do lançamento da primeira obra
literária de Dodoca, nome com que é chamado Eduardo Quive nas ruas de Patrice
Lumumba, mas que por medo da morte e do que ele mesmo escreve, prefere que nas
lides literárias seja chamado Xiguiana da Luz.
Eu já li o livro dele em vários
momentos, até antes dos versos desta poesia sinistra passar para o papel; eu li
esta poesia nos gestos e discursos de Dodoca, ou seja Xiguiana da Luz, quando
com ele trocava impressões em vários momentos no bairro Patrice Lumumba e nos
deadline do programa Matolinhas, que ele chegou a colaborar; eu li este livro
nas actividades culturais que este jovem oriundo de Patrice Lumumba, levava a
cabo na Escola Secundária da Zona verde, arredores do Município da Matola.
Um
aspecto relevante que pode estar por detrás desta escolha de Dodoca, Lágrimas,
Morte, Sorriso, Vida, etc, é a morte do seu pai que aconteceu este ano. Paz a
alma do malogrado. A morte do pai do Dodoca acontece numa altura em que este
autor também deseja partir. Talvez a questão seja, porque uma apresentação
sobre a morte do poeta e do seu progenitor? Esta é questão que os leitores
farão a si mesmos e ao Xiguiana da Luz, porque nesta obra e pelas vertentes de
abordagem sobre uma das fases mais cruciais da vida humana, a morte, Eduardo
Quive nos leva a conhecer os dois lados da nossa existência num sentido poético
repleto de sangue e terror.
Porque
sangue? Quive vem escrevendo este livro já há alguns anos. Nos passeios e
conversas dizia que escrevia sobre a morte, e em algum momento sentía-se que
ele tinha olhos postos a precária saúde do pai, relatam os amigos mais próximos.
Aí está um fenómeno de maior destaque na poesia deste jovem, a perspectiva
profética do seu pensamento.
Dodoca,
ou seja Xiguiana da Luz teve a sorte como muitos de nós, de crescer na Matola
peri-urbana e ver e viver a solidão de muitas pessoas acompanhadas; teve sorte
de ser vizinho da Matola rural e assistir a cerimónias fúnebres nos cemitérios
familiares espalhados por Singathela, Bedene, Bunhiça, São Dâmaso
entre outros bairros do Município da Matola. Uma pergunta se levanta em mim, ainda
que a resposta seja óbvia! Terá sido esta realidade, que deu inspiração para que
Xiguiana da Luz, escrevesse sobre a vida e a morte? No livro ele nos responde,
no poema intitulado Miserável, onde
fala do Manuelito, um louco do seu bairro Patrice Lumumba e lúcido em qualquer
lugar.
Dodoca, envoca a morte, a
vida, o medo e a incerteza para destilar a sua triste sina, que já o fez
experimentar tantas mortes e tantas dores; ele não nos convida a amar a vida,
mas sim a descobrir o prazer e a paz que se encontra na morte, ele auto se
proclama um pré-falecido e diz que, sua alma foi possuída por espíritos da
verdade, está engajada em sentimentos reais, foi engolida pela imaginação onde
habita o milho da caridade.
Devido a obcessão pela morte, Dodoca,
ou seja, Xiguiana da Luz, chega a fazer uma pergunta terrivel para qualquer mãe
que carrega amor pelos seus filhos: Mãe, quando é que vou morrer? De
certeza que a mãe irá dizer nunca, jamais, ou pelo menos que ela será a
primeira. Ele não sente o prazer de viver, e aventura-se em sonhos filósoficos,
sonha como o Hiperurâneo de Platão! Diz ele, e passo a citar: Queria
ser assim: Negrinho de cor azul, em pele vermelha, num mundo verde.
Dodoca goza de liberdade de escolha e tem os seus
motivos e argumentos, de tantos ente queridos que se foram ele aguarda
desesperadamente na fila, para que o seu julgamento seja feito o mais
rapidamente possível, ele quer se livrar da dor de esperar o tal dia que demora
chegar, quer ser julgado
imediatamente pelo poder divino e desabafa num dos poemas, intitulado Quando eu Morrer, quando diz e passo a
citar: Metam-me com urgência na terra faminta que me vai comer com gosto;
entreguem-me de imediato a justiça divina... Quer se juntar aos
cardosos, craveirinhas e aos amin que tão cedo partiram desta terra. Além, de
envocá-los no seu testamento paupérimo, que não tem nada além de versos
escritos sobre o papel, Dodoca escreve no mesmo poema, ou seja, Quando eu Morrer, e passo a citar: Levai a minha amada para os homens; Os meus
filhos que fiquem com o além; Levai os meus escritos para o povo; O que sobrar
que seja para quem quiser.
Vejo nos poemas de Dodoca, que
ele já morreu várias vezes, ele se declara um pré-falecido e para William
Shakespeare, Xiguiana da Luz seria cobarde, porque segundo Shakespeare,
Os
cobardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso
experimenta a morte apenas uma vez.
Sigmund
Freud, ficaria feliz com a atitude de Dodoca, pois dizia ele que, Se
quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte. E Dodoca
está pronto para a morte, então as suas costas estão preparadas para carregar o
peso da responsabilidade que apartir de hoje passa a ter, terá que dignificar o
que escreve com actos e palavras e espero que no próximo livro possamos
dessipar o paradoxo que norteia, a vida, a morte e os seus versos.
Xiguiana da Luz quer fugir da hipocrisia do mundo
onde ele vive, mundo este que faz com que os manuelitos, sejam criaturas
solitárias ainda que bem acompanhadas. Sobre esta fuga, Confuncio, alerta, Para
quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de
resolver primeiro. E eu concordo com
Confúcio! Dodoca, resolva todos problemas do mundo e depois faça boa uma viagem.
Jornalista de profissão com carreira feita na Rádio
Moçambique mas com colaboração em semanários como, Savana, Magazine
Independente, Zambeze, @Verdade. Actualmente é Técnico de Comunicação no Centro
de Apoio à Informação e Comunicação Comunitária – CAICC, um projecto do Centro
de Informática da Universidade Eduardo Mondlane, que apoia as rádios e centros
multimédias comunitários de todo País