8.12.11

A Procura da vida

Ao José Fabião Macuácua
Grande amigo,
Hoje é dia 11, sexta-feira, dia em que as coisas estão difíceis do meu lado.
Caminhei bastante a procura da vida e não a encontrei. Durante o percurso, jazia no eterno silêncio com a minha voz usurpada pelos dizeres da minha mente.
Pensava enquanto andava. Olhava para gente desconhecida, sofria de sede e cansaço da caminhada. Mas era tudo em vão.
Andava a procura da vida no eterno monólogo da morte ainda em vida.
Andava e lembrava-me de ti e de nós: eu, tu e David, em tardes tão quentes de conversas, da saudade que sinto do tempo e da vida.
Amigo-irmão,
A esta altura que ti escrevo, é tempo de lazer que me proporciono em baixo do calor que enferma Maputo. Não tenho nada a dizer, apenas a raiva desta vida que me faz distante da outra vida – a que procuro a quilómetros de mim.
Já não me tenho sem estas palavras e já me tomo com o além em que ti encontras, nas vésperas da minha chegada a qualquer lugar.
Santo amigo,
Que as suas mãos me tomem nesta agonia que espera a sua compreensão. Sei que não me queres chorão, mas foram-me as forças que me ajudam a escapar desses monólogos quando não me encontro.
Perdão amigo. Sei que me tens muito erradamente, como forte e exímio batalhador. Mas em lutas não há exímios nem nada. Há apenas vencedores, o que não sou. E desta vez, nem me venhas com dizeres contrários.
Perdoa-me amigo, por estas falácias desnutridas em tempos de apuros que vivemos. Sei da sua paciência para os meus medos.
Enquanto andava por estes alargados caminhos, não me encontrava, procurei por ela, até tinha como a encontrar, mas me escapou na hora da decisão. Agora, de volta ao seu ombro, exalo estas dolorosas palavras de sucumbência da minha parte.
Perdoa-me pela fraqueza irmão
Estas são as minhas notícias de hoje, dia 11 de 11 de 11.

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